Tuesday, April 20, 2010

A Existência Primária

Conto que fiz para dar de presente para a Dominich, levei uma manhã para escrevê-lo e meia tarde para revisá-lo. Espero que gostem.




A Existência Primária

I

Em algum lugar onde o tempo não existe e o espaço é superestimado, uma energia pairava onipresente, apenas feita de cores que variavam entre o branco, o pérola e dourado, parecia se reconstruir dentro si mesma. Fechos de luz eram emitidos de seu centro, enquanto sua forma mudava com violência e velocidade. Aquela energia não era algo que um humano pudesse conceber, pois não pertencia a gama de coisas que ele um dia pudera observar. Provavelmente, se um homo sapiens, por uma ruptura da realidade, pudesse entrar naquele plano, sequer conseguiria ver ou sentir qualquer coisa além de uma perturbadora voz gritando em sua cabeça. Isso pq os olhos e ouvidos humanos seriam incapazes de traduzir o sistema infinito formado por moléculas de existência e células de energia multinuclear. A energia pérola permaneceu ali pelo que pareceu tempo algum, ou bilhões de voltas ao redor do sol para um pequeno e esquecido planeta azul, fazendo tudo e nada, pois o significado era elevado à níveis de consciências binárias sem precedentes.

Vindo de algum outro plano, por meio de uma abertura invisível, uma placa negra adentrou o recinto da energia pérola. A placa era perfeita, e seu negrume era tão intenso que parecia sugar tudo ao seu redor. Como uma vibração negativa, que soava como milhões de explosões de um plano subsequencial, o monólito fazia os fios que sustentavam aquela dimensão se partirem lentamente. A energia pérola, sentindo a presença implacável do visitante, parou subitamente de se transformar, seus micro corpos foram se condensando e suas luzes ficaram ainda mais vivas. Os dois, placa e energia, foram se aproximando, vibravam assustadoramente, acelerando seu poder e desacelerando o pensar. Quando se tocaram, diversas outras conexões e espaços paralelos se dissolveram, os fios que os rodeavam ruíram e o cosmo sentiu que revirava sobre seu próprio umbigo celeste. O contato queimou a teia existencial que os rodeava, pouco a pouco, o que havia ao redor foi virando nada, sem cor, sem som, sem preto, sem branco. O buraco de não-vida foi crescendo e tomando as outras dimensões com velocidade, até que 270 trilhões de pensamentos simultâneos entre a placa e a energia decidiram subjugar a autoridade de suas representações físico-quântico-hexadimensionais. Como um piscar, ou como 600 milhões de voltas de uma galáxia sobre a outra, a placa e a energia deixaram de existir naquele plano e tudo parou de se mover.

II

Em um ponto bipolar, dentro da superfície dos mundos, chamado pelas suas micro espécies de planeta Terra, uma pequena cabana no alto de um extenso penhasco, rodeado de videiras e acácias, pareceu emergir tremulante do ar vazio. Era um simples casebre de madeira escura, montado sobre uma estrutura de paus paralelos e cercado por uma gramínea de verde oliva. O sol poente lançava raios de luz avermelhados sobre o penhasco, deixando-o com um ar melancólico de pintura expressionista. Dentro da choupana dois homens se encontravam depois de muito tempo, um deles, um senhor de cavanhaque grisalho, terno e sapatos brancos e um chapéu Panamá, começou o diálogo:

- Esse lugar parece o mesmo. Tão entediante. – ele olhava pela janela rumo ao horizonte limitado.

- Ele mudou, como tudo tem mudado. – disse o outro homem, um jovem, de belo rosto quadrangular e cabelos negros penteados para trás. Vestia um terno azul marinho sem botões, com blusa interna e sapatos pretos. – Só quem não mudou fomos nós.

A sala onde estavam não tinha decoração, suas paredes era de madeira bruta envernizada. No centro da sala duas cadeiras, uma de frente da outra – separadas por uma pequena mesa - dividiam a atenção de um tapete circular de crochê. Uma lareira apagada dava alguma forma ao lugar, assim como um velho armário de portas talhadas.

- É claro que nós mudamos, não se deixe enganar pelas nossas aparências mais superficiais.

- Você, aos meus olhos, parece o mesmo do começo de tudo.

- Não, devo lhe corrigir mais uma vez, eu mudei muito desde então. Mal reconheço meus atos passados. – o velho tomou uma rústica cadeira acolchoada no centro do salão e acendeu um grande cachimbo de ervas que ele mesmo criou – Você se importaria de acender a fogueira? Esse corpo sente frio.

- Claro que não me importo. – o jovem então jogou alguns pedaços de lenha, molhou-os com querosene e lançou um fósforo em chamas sobre eles. O fogo crepitou para fora da lareira, trazendo um brando calor e uma tênue luz amarelada. – Eu me recordo que na última vez que nos vimos você prometeu nunca mais voltar aqui, pensei que seria mais difícil convencê-lo.

- Se fosse por mim jamais pisaria com esses pés sobre o plano dos mundos. Mas você me procurou, me tirou de meu sono, aqui agora estou, frente ao meu maior opositor. Mas não tenho pressa, por favor, - e acenou para uma das cadeiras da sala com um largo sorriso no rosto – sente-se comigo. Desfrutemos esse momento.

- Engraçado ouvir você falar em ‘maior opositor’, pois até onde sei, somos os únicos que transitam entre todos os planos, por isso, serei sempre o ‘único’ e nunca o ‘maior’. – o jovem, já sentado, levou a mão à testa, estava fraco e cansado.

- Queria apenas enfatizar nossa posição contrária, como os dois lados da sala, você de um e eu de outro.

- Veja. – o jovem tirou então um charuto do bolso interno do paletó – Não somos tão diferentes assim, fumantes.

Os dois gargalharam.

- Mesmo eu não tendo criado você, sempre o vi como um pupilo, que anseia ser como o tutor.

- Como bem disse não fui criado por você, nem nunca ao menos lhe tomei como mestre. Ao meu ver, ser como você, sem a preocupação de encontrar um adjetivo melhor, seria degradante. Não que eu não tenha nada a aprender com você, mas me perguntou se tudo que é ensinado é tão válido assim.

- Você me ofende gratuitamente, mas não se preocupe, eu não me importo. Certamente não teria tempo para ensiná-lo, haja visto também que, fora desses corpos, jamais pensaríamos em coisas tão mundanas como ‘aprender’ ou ‘ensinar’.

- Fico feliz com sua tolerância, foi sempre do seu feitio se considerar superior demais para ser criticado. Mas concordo com você, fora destes corpos somos muito diferentes e indiferentes também. Mas me diga, o que você vê quando olha por essa janela?

- Um planeta qualquer do plano dos mundos.

- Mas essa foi sua primeira criação, esse foi marco zero do início de nossas existências.

- Talvez da sua, caro amigo. Eu sempre existi.

- Nós éramos formas e não existências. Apenas partículas de energia pairando sobre um manto escuro. Antes da grande explosão sequer havia outros planos. – o charuto já estava quase no fim, quando o jovem foi até um velho armário e dele tirou uma garrafa de whisky de mais de 100 anos e serviu em dois copos sem gelo.

- Eu sei que não havia outros planos, fui eu quem os criou.

- Nem todos, velho camarada. A divisão física entre as dimensões primárias não foi obra sua, foi criada junto conosco. – o jovem sabia que incomodava o velho com suas afirmações, e era esse o objetivo. – Tudo que fazemos é abrir portas entre os cômodos, nunca para fora da casa.

- Estou trabalhando nisso. Não acredito que a parede se sustentará por muito tempo.

- Você jamais romperá a parede. – uma dor aguda atacou a cabeça do jovem, que se esforçou para não demonstrar incomodo algum.

- Você é tão limitado jovem. Como pode não ver a infinidade de meu poder. Hoje sou capaz de recriar a criação. Refazer explosões iguais aquela que nos organizou. – o velho tomou o antigo destilado e sentiu o gosto doce percorrer sua boca e trazer boas sensações mundanas.

- Mas isso, talvez, até eu possa fazer. O que não significa nada. De que adianta recriar a criação se ela não tem valor algum?

- Lá vem você mais uma vez com essa conversa. Pare de filosofar sobre questões tão pequenas. Você não é físico, você não é sólido, nós não somos esses corpos em que estamos e essa conversa, nesse nível tão ralo, só está acontecendo pois, quando nesses casulos, nos impedimos de ser o que somos verdadeiramente. Eu sou a energia pérola, e você é a placa negra. – o velho estava perceptivelmente irritado.

- Pq você insiste em não ver que nós, há muito tempo, deixamos de ser qualquer coisa? Cada vez mais estamos distantes de qualquer propósito, vagando aleatoriamente, criando dimensões e reconstruindo partículas. – outro charuto foi aceso e levado imediatamente à boca seca.

- Propósito? Propósito? Nós não precisamos de propósito. Onde você esqueceu o que é? Nós não precisamos nos preocupar em existir. Nós somos o que sustenta o Tudo. Nós somos o extenso manto.

- O Tudo não precisa mais de nós, você bem sabe disso.

- E aonde você quer chegar? – o velho enchia novamente o seu copo com whisky.

- Que nós não somos mais precisos.

- Nós nunca fomos. Você não percebe que você está tentando aplicar lógica ao que precede o verbo. É impossível no julgar, classificar ou mesmo mensurar nossa necessidade. Nós nunca servimos a um propósito, nós somos o propósito. Nós criamos o tempo e o espaço.

- Você se tornou tão prepotente.

- Você se tornou tão humano. Quanto tempo tem passado nesse planeta, é por isso que nunca mais havia sentido você nos planos mais longínquos. Você não entende que nada disso aqui é real? Isso é apenas uma célula que eu criei para experimentar meu poder. Essa é a mais primaria e vazia das cores.

- Não, velho, você que nunca conseguiu perceber que essa é a única existência que verdadeiramente vale a pena viver. Nós somos vazios perto do que há além dessa janela.

- Eu sou feito de trilhões de mundos como esse. Eles fazem parte de minha estrutura, como você poderia dizer que algo tão simplório é a essência primordial? Você está louco. Eu sou a complexidade, a junção e fim.

-Não, você está enganado, nós somos o começo.

- Você me cansa. – o velho deixou seu cachimbo apagado sobre a mesa e caminhou até lareira, colocando a palma das mãos próximas ao fogo.

- No dia que houve a grande explosão, foram criadas duas existências, a placa negra e a energia pérola. Em nosso princípio, quando éramos impulsionados por células ainda incandescentes fomos capazes de criar a melhor das formas de vida. Não estou dizendo que eles são perfeitos, mas não há nada tão intrigante como eles.

- Eles são vis, jovem. São estúpidos. Veja os mitos que eles criaram sobre nós. Eu sou Deus, Alá, Ganesha, e você é o Mal, Satã, a Gêmula da Maldição, entre tantas outras baboseiras infindáveis. Pq você quer conviver com seres tão pequenos?

- Pq nós ficamos grande demais, velho. E não se importe com os mitos deles, ao menos você é venerado, tão conveniente pra você...

- Como você pode imaginar uma coexistência com eles? Perto de nós eles são poeira cósmica.

- Talvez devêssemos voltar a ser poeira, então.

- É uma escolha que você, definitivamente, pode fazer. Assistirei feliz a placa negra se partir em milhares de cosmos e perder sua pentaconsciência. – o velho tomou novamente o seu lugar na cadeira, ainda com um semblante estupefato.

- Eu não vou virar cosmo, nem me misturar aos fios das dimensões. Eu vou virar humano.

O velho deixou cair seu copo de whisky no chão, que partiu-se em milhares de cacos. As coisas mundanas eram tão frágeis. Seu rosto era a expressão da surpresa, talvez fosse a primeira vez que sentia aquela emoção humana, era tão curioso estar naquele corpo, ao mesmo tempo tão humilhante.

- O que você disse? Você vai virar humano? Você não pode fazer isso. Cogitar isso é humano demais, até mesmo para os nossos atuais corpos, volte já para sua forma elevada e esqueça os seus ridículos pensamentos.

- Eu estou decidido velho. Isso vai realmente acontecer

- Você é minha dualidade, meu oposto. Você não pode fazer isso.

- Eu sei disso, você sentirá minha falta. Eu vou retroceder a esse corpo que você está vendo para sempre. Foi uma escolha que demoro muitos trilhões de anos para ser feita. Muitas vezes estive tão entretido criando ondas magnéticas e seres de pensamento fluido violeta que esqueci que o meu lugar era aqui, justamente na sua primeira criação.

- Você não entende. Você é parte intrínseca de mim, você não pode simplesmente se tornar humano, provavelmente sua ausência quebraria a cordas mais antigas e a Terra deixaria de existir. Você está fadado a ser o que é, para sempre.

- Não se eu trouxer você junto comigo.

Uma longa e alta gargalhada soou no aposento – Eu jamais abandonarei minha autoridade para me tornar um humano, eu sinto muito jovem, mas eu não compartilho de seus anseios.

- Eu sabia que essa seria sua resposta. Foi por isso que me ausentei por milhões de anos. Estive procurando uma forma de convencê-lo a se tornar humano.

- Não há argumento que faça isso garoto, começo a achar que você é mais tolo do que pensava ser.

- De fato, não encontrei nenhum argumento, nem mesmo um que pudesse ser usado quando estivesse fragilizado em um corpo humano. Por isso comecei a procurar uma forma de transformá-lo a força.

- Isso seria impossível, você não é cria minha, mas é subjugado ao meu poder. Nunca conseguiu me forçar a lhe amar, quanto mais a me tornar humano.

- Isso não é uma inteira verdade. Eu achei uma brecha, caro velho. Eu vou forçá-lo.

- Me diga como. – os olhos do velho fitavam o jovem com severidade.

- Bem, foi um longo processo. Precisaria de mais de 30 anos humanos para lhe explicar todos os passos que culminaram no dia de hoje. Mas vou lhe explicar de uma forma bastante simplória, e por isso, peço desculpas. Primeiro quero que olhe para a palma de sua mão esquerda. – o velho olhou e percebeu que no centro dela havia o desenho de uma cruz, seu corpo estremeceu – Isso que você vê é uma marca que me custou anos luz, ela é o selo que impede você de simplesmente me abandonar aqui até que eu termine essa conversa.

- Interessante, ao menos lhe ouvirei.

- Você não percebeu, mas durante anos eu envenenei os fios dimensionais que o cercavam e eles enfraqueceram sua energia essencial. Você não percebeu, pois estava ocupado demais destruindo a parede do vácuo. Com sua energia estremecida eu pude inserir diversas células minhas em sua composição, por meio dos mundos que você ingeria e destruía. Você se misturou a mim e eu me misturei a você. Então faltava apenas um último ato, subjugar sua autoridade mor, por isso sem que você notasse, criei 3 mil e 900 dimensões feitas de minha matéria fundamental. Esperei por milênios para que você finalmente entrasse em uma delas, e isso aconteceu, tempos atrás, foi lá que nos encontramos pela última vez. Eu já estava completamente fraco e se você não tivesse aceitado descer ao plano dos mundos comigo, provavelmente eu ali deixaria de existir. O contato entre nossas massas ativou minhas células em você, você se tornou um igual. Agora, estamos nós dois aqui como irmãos. Não estou abaixo de você, não hoje.

- Vejo que você se esforçou muito para me trazer aqui. – a voz do velho era fria, mas mantinha-se calma – Mas você não pode me dominar sendo igual a mim, é um preceito básico, além disso, você está fraco, mesmo sendo agora um irmão, eu posso facilmente matá-lo.

- É ai que entra o whisky que você tomou...

Antes mesmo de terminar a frase, o velho percebeu tudo o que tinha sido feito, e enfiou o dedo na garganta, vomitando no chão de madeira. Estava completamente abalado e sua face era de profundo medo.

- Não adianta mais. – continuou o jovem – O veneno já se espalhou pelo seu corpo, você vai morrer em alguns minutos, como um humano.

- Como você ousa? Quão louco é você, idiota. – os sentimentos humanos incontroláveis tomaram o velho, que mal conseguia formular pensamentos coerentes, já sentia as pernas tremerem e uma forte dor no estômago. Você envenenou o CRIADOR, você é mesmo a BESTA que esse povo fétido lhe nomeou.

- Calma velho. – o jovem estava em pé do lado da lareira, segurava o copo intacto de whisky e com a outra mão o charuto já no fim. – Pense apenas em saborear a experiência, será sua primeira morte.

- Como fui tolo.

- Na verdade os méritos são todos meus, você faz tão parte de mim que minha vontade de que você bebesse o veneno foi maior do que a sua capacidade de desconfiar.

- Eu tenho nojo de saber que você está em mim...

- Minhas células são as mais fracas, devem estar morrendo primeiro do que as suas, em poucos segundos, você voltará a ser apenas você. Morrerá sozinho.

- Você vai destruir tudo que existe. – o velho babava e sua voz saia com dificuldade – Todos os planos deixarão de existir, e tudo que você fez terá sido em vão. Ainda há tempo, tire o selo de mim, me deixe sair desse casulo.

- Não, isso não acontecerá. Além do mais eu tomei as devidas providências. Os planos não se destruíram, pelo contrário, com nossa ausência eles poderem se fortalecer e se estruturar de forma devida. Você não consegue ver, pois você se expandiu demais, mas nós éramos o câncer de todos os planos. Nós estávamos destruindo a parede, mais cedo ou mais tarde você ia acabar se tornando algo tão grandioso que nem sequer saberia quem era.

- EU NÃO QUERO SER HUMANO.

- Velho, você já é.

Não demorou mais do que 20 minutos para que o corpo sem vida do velho se estatelasse no chão. Os olhos revirados e a expressão de intensa dor. O jovem foi novamente até o armário, e dessa vez trouxe uma adaga, dois cravos comestíveis e um pequeno cubo – do tamanho de um dado – de cor âmbar. Com a adaga cortou o pulso esquerdo mais fundo do que planejara, sentindo uma terrível dor, mas segurou o urro que pediu pra sair pela sua garganta. Enquanto o sangue fugia de suas veias, engoliu um dos cravos e o outro pôs na mão do velho. Pousou o cubo negro no centro da sala e foi para o lado de fora do casebre, sentou-se em um sofá na varanda, virado para o por do sol. Ficou alguns segundos fitando as nuvens grandiosas que recebiam as cores avermelhadas e pareciam queimar internamente. No solo só se via verde para todos os lados e um rio estreito cortando as planícies. Parecia algo irônico, ele agora emocionado ao ver o que ajudara a construir, o marco zero seria agora seu lar, até o fim de uma vida mortal.

Assim que o sol sumiu na linha acidentada do horizonte, o jovem fechou os olhos e não mais os abriu. Apenas horas depois, renasceria, e ao lado de seu melhor amigo - seu irmão, seu oposto, sua autoridade, seu deus – caminhariam entre as altas árvores, como falhos e vis humanos de uma existência primária, da qual jamais se arrependeriam de viver.


- Fred Martins

Para Dominich Pereira Cardone, com carinho e amor.

Friday, April 16, 2010

Mente Humana


Poisé, estava eu aqui pensando em algo pra escrever no blog, pois de repente me veio à luz da vontade me cutucar no tédio, faz tempo que não o faço.. Faz tempo que não divido meus pensamentos aqui no blog, vergonha por isso? Não, mais me alegrei quando em meio aos meus “tecs” das teclas me lembrei porque agente criou o blog, lembrei que era pra isso, “dividir pensamentos com os amigos, e outras baboseiras”, baboseira estas que tornam tudo mais especial. Acho que hoje são poucos os que entram no blog, mais se entrarem não deixem de comentar. Mais enfim, tava percebendo aqui em meio ao tempo livre o quanto a responsabilidade nos toma tempo. Cara, nunca pensei que meu tempo “livre” fosse tão curto com o decorrer da maturidade, o quanto este elemento se tornaria tão precioso em meio as nossas vidas corridas, tão precioso porque nos faz pensar. Tempo livre demais enlouquece acredito eu, porque pensar de mais enlouquece, não digo pensar no ato de estudo, onde você exercita sua mente numa determinada matéria e a prende neste aspecto tentando compreender aonde o conteúdo quer chegar, digo o pensar da vida. A psicologia diz que nós seres humanos somos divididos em corpo, alma e espírito, não querendo discutir o espírito, acho que cada um de nós tem uma idéia a respeito deste, mas discutir sobre a alma, onde nossa personalidade está intimamente ligada. A mesma psicologia nos diz que ah personalidade é dividida em o que nós somos, o que pensamos que somos e o que os outros pensam que nós somos, então seria tão importante a opinião das outras pessoas afinal pra nos definir? Acho que talvez, mais o grande limiar de nós mesmos é quando nós entramos no poço sem fundo de nossa auto-imagem, quando mergulhamos no insano mundo do subconsciente. A nossa mente que de acordo com froid é o ego o “eu”, que nos faz ambiciosos e perigosos, pois ela prega peças, faz pensar que o que nós queremos na verdade não é exatamente isso e que junto com a vontade que de acordo com o mesmo froid é o ID do individuo, é mortal e sem precedentes se não haver a emoção que nos torna humanos, emoção chamada de Superego o que nos faz fazer besteiras, nos machucar em prol de um bem maior, emoção que nos destrói, mais pelo menos não nos faz destruir, passando por cima de qualquer um por um desejo egoísta, o que nos torna humanos em suma e não monstros.

Loucuras a parte, acho que o ser humano é egoísta, é tenebroso pensar assim, mais é a verdade, um dia eu e uns colegas da faculdade estávamos discutindo sobre o socialismo, e me surpreendi com algumas respostas, não que eu seja a favor deste, pra mim o socialismo é impossível pelo fator egoísmo do ser humano, me incluo nisso é claro, em pensamentos íntimos percebi que este seria o modelo de vida ideal, pois todos viveriam muito bem, com direito ah educação, saúde, alimentação e qualidade de vida. Deparei-me com a seguinte resposta “se eu estudei pra ser um dentista, passo horas na biblioteca pra ter uma excelência em meu aprendizado, seria justo eu ganhar o mesmo que um pedreiro? (estávamos discutindo o utópico, onde todos realmente viveriam igualmente BEM) Em calor de discussão achei melhor ficar calado para não arranjar alguma antipatia, mais nos meus pensamentos pensei eu, seria justo então o pedreiro que não teve as mesmas oportunidades que o rapaz, ficar em sol quente trabalhando feito um condenado e ganhar absurdamente menos? Porque um médico não pode ganhar o mesmo que um plantador de cana ou uma faxineira se todos trabalham? Mas lembrei de algo que em profunda avaliação minha percebi. O ser humano por mais que pareça ser correto tem uma dualidade que nos faz feliz com ah desgraça alheia. Uma pessoa só consegue tornar-se feliz e sentir-se satisfeita em algum momento quando vê alguém em estado pior que o seu. Percebi isso em meu próprio pensamento quando tirei uma nota acima da deste mesmo rapaz em determinada disciplina, um lado meu ficou feliz por ter sido melhor que ele em tal coisa. Me deparei em choque com meus próprios pensamentos inconscientes, então quem sou eu pra julgá-lo? Apenas mais um hipócrita.

Os: em um mundo socialista, queria ter o trabalho do Paulo.

Iahahiahiah, abraço gente :*