
Olá caros amigos Kojiros,
Vim aqui para falar um pouco sobre minha ‘opção religiosa’ em contraponto da realidade proposta por nosso caro amigo LG. Levando em consideração que o texto é um tanto grande para os padrões de blog e seu conteúdo um tanto específico e ‘difícil’, gostaria que você apenas lesse se houver interesse, caso não, pula pro do Xicolândia ali embaixo.
Primeiramente gostaria de citar algumas frases que foram importantes na minha vida, para que vocês possam sentir um pouco o impacto delas na vida de um garoto em crescimento não apenas físico, mas intelectual.
“Uma visita ao hospício mostra que a fé não prova nada.”
Nietzsche
“Não, nossa ciência não é uma ilusão. Ilusão seria imaginar que aquilo que a ciência não nos pode dar, podemos conseguir em outro lugar.”
Freud
“Por simples bom senso, não acredito em Deus. Em nenhum.”
Charles Chaplin
“Religião é uma coisa excelente para manter as pessoas comuns quietas.”
Napoleão Bonaparte
“Meu filho, o inferno é aqui e agora!”
Carmen Lúcia, minha mãe.
“Não sou um ateu total, todos os dias tento encontrar um sinal de Deus, mas infelizmente não o encontro.”
José Saramago
“A verdade nunca perde em ser confirmada.”
Shakespeare
“Mitologia é o nome que damos às religiões dos outros.”
Joseph Campbell
“Para os peixinhos do aquário, quem troca a água é Deus.”
Mário Quintana
“Se as pessoas são boas só por temerem o castigo e almejarem uma recompensa, então realmente somos um grupo muito desprezível.”
Einstein
“Não há no mundo amor e bondade bastantes para que ainda possamos dá-los a seres imaginários.”
Nietzsche
Desde pequeno fui criado em uma família de católicos fervorosos, digo isso no âmbito que acerca a avós, tias e primos. Minha avó que esta viva até hoje, continua morando em frente a igreja de sua cidade e quando o padre falta é ela quem dirige a missa.
E sempre fui empurrado para a igreja com no melhor estilo ‘cale-se e reze, é isso que deus quer’. Mesmo sendo ainda uma criança comecei a separar o que me era dado e o que me era empurrado, mesmo sem consciência disso. Me lembro bem que nunca rezava para agradecer e nem para pedir, mas uma vez aos prantos pedi pela vida da minha mãe, pedindo que ela nunca morresse. Você acredita? Uma criança de no máximo 7 anos de idade já pedindo pela imortalidade? Penso em quão natural de um ser humano é esse desejo.
O tempo foi passando e eu crescendo, mas aquele ‘vazio no coração to tamanho de Jesus’ nunca apareceu e eu parei de mentir para eu mesmo, assumi uma postura frágil, mas para muitos radical, virei ateu. E fui além, com 12 anos sentado a mesa na hora do almoço falei frente ao meu pai e minha mãe: “Eu sou ateu! Eu não acredito nesse negócio de Deus!”. Meus pais não me repreenderam, mesmo eu vendo em seus olhares um receio tímido. Afinal nem eu mesmo sabia o que era ser ateu e por isso passei ainda muitos anos experimentando de tudo na minha vida.
Nunca tive contato com pessoas ateístas em minha vida, não mesmo. Tive primos que apreciavam as idéias, mas mesmo assim meu contato com eles foi próximo do nulo. Nunca tive também em minhas mãos livros a respeito nem nada parecido, portanto digo com clara verdade que a descrença em qualquer deus surgiu em mim assim como a dita ‘fé’ para os teístas.
Mas mesmo não tendo nenhuma real crença em seres sobrenaturais, tinha medo e receio. Muitas vezes questionado sobre minha religiosidade me vi respondendo que era católico, mais por medo de me expor do que por outra coisa. Para os poucos que eu dizia ser ateu me arrependi mais tarde, “Credo!”, “Tu é filho do Satanás!” e “É porque você ainda não encontrou Jesus!”. E me envolvi em diversos bate-bocas, pois sempre que houver uma pessoa sã e racional haverá um crente alienado e radical, para tentar converte-lo. E as pessoas me perguntavam:
“E quando você morrer você vai pra onde?”
(Um caixão seria digno o bastante.)
“E qual o nosso objetivo aqui?”
(Nós temos o poder de traçar nossos próprios objetivos, cabe a nós ser útil ou não em uma concepção maior de massa, ou apenas buscarmos nossos valores racionais, a busca, assim como a vida, é nossa)
“E seu espírito?”
(Vai pro mundo das fadas, duendes e todos os seres de Tolkien: pro mundo das coisas que nunca existiram.)
“E quem nos criou?”
(Talvez Karl Marx, talvez nós mesmos, talvez alienígenas, mas se você não sabe a resposta não me crie deuses para justificar sua falta de conhecimento.)
Quando não se conhecia o fogo ele foi dado como coisa dos deuses, será que vem daí a idéia de inferno? Cheio de fogo; Quando não sabiam o que havia nos extremos do mundo, disseram que seria infestado de demônios, quando dominaram o conhecimento geográfico tiraram os demônios do mar; Quando não se podia voar lançaram a terra dos deuses nas nuvens, quando chegamos lá vimos que não passava de vapor de água. Quantos de nós acharam chifres cavando no quintal? Quantos de nós viram anjos cair depois de trovoadas, e não me venham dizer que isso é estúpido, pois esse era o pensamento daqueles que inventaram o cada religião. O conhecimento foi expulsando cada vez mais a fé, como D’Holbach mesmo disse: “a religião é a arte de ocupar mentes limitadas”. O conhecimento trouxe o questionamento, como sempre trouxe. Se você quiser derrubar qualquer religião apenas utilize a razão, apenas aceite a racionalidade, não peço mais que isso.
E não aceito que me digam que ‘ateu é ateu por modismo’. Como bem colocou Antonio Vides Junior: “É difícil ser ateu. Encaramos a morte com olhos aterrorizados. A despeito de todos saberem que ela é inevitável, nós a encaramos como o fim de tudo. Não esperamos nada do além-túmulo. Não estamos indo ao encontro a deus ou a eternidade. Quando nos apaixonamos, não esperamos viver no paraíso ao lado de nossas esposas ou maridos. Tornar-se-á célebre a frase de Ann Druyan, viúva de Carl Sagan, um dos ateus mais respeitáveis dessa geração, ao falar da despedida do marido, no leito de morte: “Nenhum apelo a Deus, nenhuma esperança sobre uma vida pós-morte, nenhuma pretensão que ele e eu, que fomos inseparáveis por vinte anos, não estávamos dizendo adeus para sempre.” São palavras terríveis, mas sabemos que são verdade. Sabemos. A consciência ateísta, quando surge, nos eleva a uma percepção única. Passamos a enxergar a vida como a areia da ampulheta, que escorre inexoravelmente pela fenda. Não importa o quão correta tenha sido sua vida, no fim, a morte reina absoluta.”
A religião esta para mim como a mitologia esta para um católico. Qualquer católico ou evangélico ri da idéia de acreditar em Zeus, Thor e Bel. Na verdade o monoteísta é o ser mais próximo do ateísmo que existe, só falta um deus, apenas uma linha tênue para que ele possa se livrar das correntes da religião.
Religiões essas que pregam irracionalidades, se moldando com o tempo para estarem sempre prontas para conquistar seu rebanho. Um católico ri de um baiano que pratica o Candomblé, mas onde sua religião é melhor que a dele? Onde a sua pode ser provada e a dele não? É muito adequado acreditar em um deus incognoscível, ou seja, é muito oportuno acreditar em um ser sobrenatural que por sua própria essência nunca apareceu, nem nunca será conhecido, não se pode manter contato e nem se pode provar. É na realidade um amontoado de cartas formando um castelo, apenas assopre a racionalidade e verá que tudo desaba.
E se você esta preocupado em ir para o inferno apenas leia esse trecho de George H. Smith:
“Como argumento final – ou sátira de argumento –, penso que já devem ter ouvido sobre a aposta de Pascal algum dia. Blaise Pascal foi um famoso matemático, filósofo e teólogo francês. Ele bolou este argumento que, conseqüentemente, tornou-se bastante famoso, e consiste basicamente nisto: a razão não pode provar ou negar a existência de deus; considere as vantagens; se o ateísmo está correto, vamos morrer, nada acontecerá e nada perderemos; todavia, se o cristão está correto, os descrentes acreditarão no inferno eternamente. Assim, parece que as vantagens práticas estão no cristianismo. Nós apostaríamos no cristianismo porque as vantagens práticas são importantes. Se apostarmos no cristianismo e não houver um deus, não perderemos nada.
O primeiro problema óbvio com isso é que coloca de lado toda a questão da integridade intelectual, como se pudéssemos simplesmente mudar nossas crenças arbitrariamente sem sofrer qualquer dano psicológico, o que é simplesmente impossível. Seria necessário tamanho desprezo pela integridade intelectual para realizar esse tipo de coisa, que é inconcebível que alguém com o tipo de mente de Pascal sequer a proporia.
Mas eu gostaria de propor uma contra-aposta, chamada “aposta de Smith”. Eis as premissas de minha aposta:
1 – A existência de um deus só pode ser estabelecida por meio da razão.
2 – Aplicando os cânones do raciocínio correto à crença teística, chegamos à conclusão de que o teísmo é infundado e deve ser rejeitado por pessoas racionais.
Então vem a questão “Mas e se minha razão estiver errada neste caso?” – pois às vezes está. Somos seres humanos sujeitos a falhas. E se for o caso que existe um deus cristão que está lá em cima e que punirá por toda a eternidade a descrença nele? É aqui onde entra minha aposta. Suponhamos que você é um ateu. Quais são as possibilidades? A primeira possibilidade é que não existe um deus, e você está certo. Neste caso, você morrerá e tão-somente, não terá perdido nada, e viveu uma vida feliz na posição correta. Em segundo, pode existir um deus que não está preocupado com as ações humanas. Pode ser o deus tradicional do deísmo. Ele pode ter dado início ao universo e o deixado seguir segundo suas próprias leis, e neste caso você simplesmente morrerá e, de novo, isso será tudo, você não perderá nada.
Suponhamos que exista um deus que está preocupado com as questões humanas – um deus pessoal –, mas que é justo, se preocupa com a justiça. Se há um deus justo, este não nos puniria por acreditarmos honestamente num erro quando este não implica torpeza moral ou maldade. Se esse deus é o criador e nos concedeu a razão como um meio básico de compreender nosso mundo, então este se orgulharia do consciente e escrupuloso uso da razão por parte de suas criaturas, mesmo se cometessem erros de tempos em tempos – do mesmo modo que um pai benevolente se orgulharia das conquistas de seu filho, mesmo se este cometesse erros de tempos em tempos. Portanto, se existe um deus justo, não temos absolutamente nada a temer – não faz sentido pensar que tal deus nos puniria por uma crença equivocada.
Agora chegamos à última possibilidade. Suponhamos que exista um deus injusto, especificamente o deus do cristianismo, que não tem qualquer consideração pela justiça e que nos fritará no inferno, independentemente de termos cometido erros honestos ou não. Tal deus é necessariamente injusto, pois não podemos conceber uma injustiça mais odiosa que punir uma pessoa por honestamente acreditar num erro, quando esta tentou ao máximo distinguir a verdade. O cristão pensa que está numa posição melhor se esse tipo de deus existir. Mas devo salientar que ele não está em uma posição nem um pouco melhor que nós se existe um deus injusto. A marca da injustiça é o comportamento desregrado, um comportamento imprevisível. Se há um deus injusto que realmente se alegra incinerando pecadores e descrentes, então o que lhe daria mais alegria que dizer aos cristãos que serão salvos, apenas para depois tostá-los igualmente pela diversão – apenas porque lhe apraz? Se há um deus injusto, que pior injustiça poderia haver? Não é uma idéia tão forçada. Se deus está disposto a punir o ateu por uma simples crença errônea, não se pode acreditar que ele cumprirá sua palavra quando diz que não lhe punirá se não acreditar nele porque, de início, este tem uma veia sádica – certamente conseguiria extrair bastante alegria desse comportamento. Se existe um deus injusto, então estamos vivendo num universo que é um pesadelo, mas não estamos numa posição pior que a do cristão.
Novamente, se formos fazer uma aposta, poderíamos apostar no que a razão nos diz – que o ateísmo é correto, e seguir esse caminho, pois não se pode fazer nada a respeito de um deus injusto, mesmo se aceitarmos o cristianismo. Minha aposta diz que devemos em todos os casos apostar na razão e aceitar a conseqüência lógica que, no caso, é o ateísmo. Se não há um deus, estamos corretos; se há um deus indiferente, não sofreremos; se há um deus justo, não temos nada a temer pelo uso honesto da racionalidade; mas, se há um deus injusto, temos muito a temer – assim como o cristão.”
Com isso termino meu post, é claro que o texto acima não representa um terço de minha forma de pensar, até porque não poderia expressar anos de racionalidade em apenas um post, mas convido-os a refletirem sobre meu texto. E se precisarem de leituras sobre o tema posso recomendar. A única coisa que peço é que não questionem minhas descrença, afinal EU não tenho que provar nada, quem afirmou que deus existe foram vocês religiosos, quem tem que provar alguma coisa é vocês, não eu. Enquanto isso, vivo minha vida LIBERTO. Liberto de julgamentos morais, liberto de julgamentos sobre meus atos. Assim sou mais integro, assim sou mais livre para pensar e agir conforme virtudes que acredito. Essa é a minha realidade.
.Frederico Martins, Ateu.