Friday, December 03, 2010

o mestre em ação

oportunidade incomum e preciosa essa, a de observar o mestre em ação. seja qual for o segmento referido, profissional ou um hobby qualquer, o mestre torna o cotidiano em arte.
verdadeiros mestres tem a capacidade de impressionar sem nenhum esforço. com 15 anos, indo pela primeira vez a uma aula de taekwondo, tive uma dessas raras oportunidades. observei mestre In Ho Oak, vulgo Coreano, em ação. o curioso sobre os mestres, é que seu nível de expertise muitas vezes beira a ficção. o asiático de um metro e meio se portava e movia-se como se retirado de um filme de kung fu,e até seu mais simples golpe, como um banal soco, era provido do que Musashi chamaria de "complexa simplicidade".
quando me refiro a "mestre" não subentendam que me refiro apenas às artes marciais. existem mestres em praticamente qualquer atividade possível. como por exemplo, os mestres da oratória.
assisti à missa de formatura do Tiago realizado pelo pastor Marcio Rosa e seu discurso confirmou o que sua postura sugeria: eu estava novamente diante do mestre em ação. essa é outra coisa curiosa sobre os mestres, eles não precisam fazer absolutamente nada para impor respeito, adquirem uma espécie de "postura do mestre" que, em alguns casos, exige um pouco de sensibilidade para ser notada. indivíduos realmente obtusos podem cruzar com mestres a vida inteira sem na realidade nunca se darem conta. realmente poderosos esses mestres da oratória, não existe talvez um indivíduo que não se entretenha e aprenda com uma aula do professor Ruy Guilherme, e muito poucos não aplaudem entusiasmados um discurso do professor Sansevero, falando, eles são mestres em ação.
a experiencia de presenciar o mestre em ação deve ser aproveitada ao máximo. pois só observando um verdadeiro mestre podemos nos conscientizar da nossa real ignorância, e de como é longo o caminho para a expertise. mestres não podem ser ignorados, eis outra de suas características. se destacam de tal forma que impõe acima de tudo respeito, mesmo a seus inimigos.
e assim, tendo a sensibilidade para reconhecer um mestre, a humildade para admirar suas habilidades, a consciência do tamanho de si, e a determinação para trilhar o caminho dos aprendizes, assim poderemos verdadeiramente crescer sem a cegueira ilusória do orgulho, e talvez quem sabe, as pessoas nos olhem, e mesmo não gostando ou não compreendendo exatamente o que esta acontecendo, elas respeitarão, pois estarão diante do mestre em ação.

Wednesday, November 17, 2010

capacidade x eficácia

Tudo estava correndo conforme o planejado. E não era justamente esse o problema?
Sentado perigosamente na beirada do terraço de um arranha-céus, um indivíduo qualquer
refletia sobre sua vida enquanto observava o contraste das infindáveis luzes da cidade com a noite escura.
E se seus planos tivessem sido mais ousados? e se tivesse arriscado um pouco mais sua aparente
estabilidade em prol da chance de avançar mais em direção às suas metas?
O fato de ser perfeitamente capaz de executar tudo o que planejar, levava-o a interminável
obrigação de fazer planos sempre, ou ser subjugado por um destino incerto.
Planejar, contudo, é só o primeiro passo. Existem ações a serem executadas em prol de uma meta
e cada uma delas exige um tipo de esforço diferente e, é claro, tempo.
Capacidade de execução, entretanto, ( e não é aí que está o âmago da questão?) não implica
100% de eficácia em todas as ações. Podemos estar preparados para evitar armadilhas ardilosas
num dia, e pisar em bosta de cachorro no outro.
Nossa eficácia portanto, apesar da capacidade permanecer inalterada, é variável. Se somos sempre
capazes, o que raios altera nossa eficácia tão rotineiramente? Era sobre esse dilema que nesse momento
figura solitária no alto do arranha-céus fritava cada mísero neurônio. Pois ele era capaz, mas nessa noite ( e
especialmente nessa maldita noite) havia sido ineficaz. Pondo abaixo assim uma meta, embora tudo houvesse corrido
como o planejado e , repito, era justamente esse o problema.

Thursday, November 04, 2010

A Flacidez de Miguel

Sim caros amigos, o Kojiro está de cara nova, o que não deve fazer muita diferença, já que não há tantas visitas assim, de qualquer forma é sempre bom mudar. Fato interessante é que o blog tem mais de 4 anos, fato fatídico é que ele está morrendo, mas quem sabe as coisas não voltam a ficar agitadas por aqui. É sempre tempo. Abaixo segue um conto que escrevi, ele é um tanto erótico, de humor saramaguiano, e detalhismo fredista. Se você é daqueles que não tem muito saco para ler contos, pode deixar um comentário mesmo assim, ao menos pra dizer que ainda visita o blog.

Um abraço.


A Flacidez de Miguel

Por que insistes no paralelismo, se tudo que te peço é um pouco de perpendicularidade?, perguntou-se Miguel, olhando para seu pênis flácido, que seguia teimoso na mesma direção de seu corpo. À sua frente, de pernas abertas, estava a mata rala de pelos pouco pudicos, porém sublimes. Não havia apenas um convite implícito, entre as grandes montanhas formadas pelas belas coxas morenas, e pelo vale que se desenhava com o declínio harmônico, do ponto máximo pontuado pelo umbigo, delicadamente desenhado, até a cavidade profana. Era uma ordem que se impunha veemente entre os corpos. Um indizível protesto de possessão, que era emitida pelas linhas pecaminosas da mulher, e questionava a demora de Miguel, que nervoso, suava. Mas o que ela não sabia era que não convinha a ser os desejos do pobre o impedimento maior para que se deixasse de enfiar o ferro em chamas, ao menos assim deveria estar, em sua receptora de prazer. Era, entretanto, o próprio instrumento mor, que, desfalecido de motivos suficientes, negava-se a prostrar-se de pé. Digo motivos, pois, por mais belo que fosse o corpo nu a sua frente o membro simplesmente não tomava vida, e sendo assim, motivos até então desconhecidos deviam existir para que o mesmo desistisse de exercer sua função prima.

Não que seja o único papel do pênis entrar no chanfro afrodítico. Mas isso foi tolice de Deus, que, possivelmente cansado de criar tantas diferentes plantas e incontáveis exemplares animais, nos dias que sucederam o ‘faça-se a luz’, limitou-se a agregar mais de uma função as coisas de menor importância. Quando, por fim, criou o pênis, poderia ele ter separado os cargos, e assim o homem mijaria por outro canto que não pelo mesmo que goza. Assim estaria distante de vez o que não serve, do prazer. Mas poderíamos nós, contrariar as idéias divinas? Talvez tenha sido esse mesmo o propósito. Do pau sairão os resíduos não aproveitados pelo corpo, pensara Deus, e também será fonte do jorro máximo do prazer, assim, o homem, que diferente do que dizem, é, assim como a maçã e sua cobra, a expressão vil do despudor, jamais esquecerá que a fonte do deleite, de tempos em tempos, também há de ser a fonte do impuro. Cheio de subliminarismo, esse nosso Deus, mas não culpemo-lo. Quando nos criou, por ingenuidade de artesão amador, achava que fazia sua maior obra. Descobriu depois a mulher.

Mas deixemos de divagar, e voltemos para Miguel. Talvez quem leia essa verídica história ache necessário conhecer melhor o homem que chamam de Miguel, haja vista que nome por nome ninguém é nada além de escolhas paternas. E Dona Clara, mãe do homem em questão, sem muitas opções, decidiu que para esta demanda, a letra ‘m’ daria um bom começo, pois dela partem os mares, as montanhas e o mundo. A segunda letra teria que demonstrar sua posição de subjugada, de assessória, e por isso Dona Clara escolheu o ‘i’, pois dele não se iniciam grandes coisas, ele era apenas incógnito, meio irrelevante e incolor. A terceira letra era a das mais importantes, pensava, pois era a consoante que daria o tom maior, depois de muito tempo decidiu que seria o ‘g’, pois ele era grande, garboso e glorioso. Para finalizar jogou algumas letras de menor valor, um ‘u’ ufanoso, um ‘e’ épico e um ‘l’ languido. Assim se formou Miguel, em título, mas não em intelecto. Sua vida, que compreende o tempo de seu nascimento até o presente momento, são, devo dizer com propriedade de quem vos escreve, que não foi nada que quadre contar, pelo contrário, pois começou enfadonha e deslizou monótona pela linha do tempo. E se o leitor persistisse na escrita de tal, mesmo que em poucas linhas, certamente as palavras e letras, veriam os pesados olhos do leitor se fecharem, amolados. Atenhamos-nos ao que delimita as mais relevantes peculiares, e deixemos o resto para outro momento. Até para não nos distanciarmos cada vez mais do mote central, que é o sexo, ou sua ausência.

O homem era um jornalista de mão e cabeça cheia. Usava sua incrível percepção para, com palavras, exprimir sua tão acertada crítica sobre a política e vida humana. Trabalhava no maior jornal da cidade, e dividia seu expediente entre as sujas páginas dirigidas ao parlamento e sua famosa coluna. De certo, poderia com muita facilidade escrever sobre o que lhe acometia naquele momento. Primeiro, como era de seu feitio jornalístico, tentaria encontrar uma linha original pela qual pudesse dissertar e depois com rápidas rabiscadas em seu bloco de notas faria de sua mais cruel experiência uma história que, mesmo comum a muitos homens, soaria inédita, tamanha a habilidade que o mesmo tinha para extrair do ordinário, detalhes, que são o valor de ouro da escrita. Mas, improvavelmente, falaria sobre aquilo, muito menos escreveria.

Estava Miguel tão perdido em divagações, que retornando ao quarto, o qual em momento algum saíra, limitou-se a mirar a morena em sua cama e dizer que aquela noite não era a da satisfação carnal. A porta de seu apartamento fechou-se com força, quando a mulher, bufando sua frustração pelos cômodos, partiu. Delicada como não era, nada disse, mas sua expressão feroz e sua linguagem corporal de pouco tato foi o suficiente para deixar o homem ainda mais para baixo, em sentido figurado, claro. Miguel este estava entre a cruz e a espada, ou melhor, entre o desejo e o relaxamento indesejável. O pior é que não estava estressado, preocupado com situação financeira, ou qualquer um desses ditos pretextos comuns dos que não ‘dão-no-coro’. Sequer doente estava, pelo contrário, apresentava uma saúde invejável, até mesmo para atletas amadores. O que o acometia era de ordem da psique, e por isso, não importava o estado de seus músculos ou a freqüência com que os exercitava. Seu problema era em fibras que não pediam nem aceitavam cobranças: o cérebro. Tão pior assim o era, pois os músculos, como o bíceps, são bastante sociáveis, e se deixam facilmente moldar por pedido ou ordem de seu portador. Já a massa cinzenta é arredia, não aceita mando e nega exposições desembestadas.

Com medo que a situação se repetisse, noutro dia mesmo, Miguel partiu a procura de um médico. Talvez na ciência encontrasse forças químicas que levantassem sua moral, que, abraçada à seu pênis, deixaria tudo em ordem. Mas a decepção não tardou a vir, pois o doutor nada constatou. À olhos clínicos, disse o especialista, ele estava perfeito. Mas isso era tudo o que não estava. Homem nenhum vive sem sexo e sexo nenhum se faz sem ereção, ou o pau começava a mirar o céu, ou a cara, de vergonha, se volta para o chão.

Rumou então à busca de outros caminhos que não o da erudição medicinal. Precisava de alguém que tratasse o intangível, foi atrás daquele que de certo seria o mais indicado para os causos de desordem mental, o psicólogo. Mas para que não se frustrasse ainda mais, a vida, penosa como é, cuidou de adiantar à Miguel que daquele mato não sairia coelho, muito menos um daqueles que férteis, desembestam a transar a torto e a direito.

Miguel estava prestes à descambar de vez para as terras áridas da depressão. Longe de lá não estava. Pode parecer exagero, ainda mais se o leitor for uma leitora, pois não apenas um par de fartos seios e uma divina racha a diferem dos homens. Elas pensam com um cérebro que não é o deles, e por isso, o enrijecer das partes púbicas as são apenas ato repetitivo, que não necessita esforço e não fundamenta a escrita deste conto. Mas garanto a elas que, falhar na hora ‘agá’, é ação abusada que não cabe comparação com nenhuma outra situação. Basta dizer que, quando não se levanta o pau, sequer ficam, os homens, a ver navios, pois todos jazem naufragados antes mesmo do velejo.

Uma meretriz, pensou o homem frouxo, deve dar fim a minha epopéia. Uma puta era a última solução, pois se nem ela, doutrinada na arte do prazer, pudesse colocar estímulo no membro desfalecido, nem mesmo reza ou macumba dariam jeito. Para não dar tiro no escuro, decidiu consultar em todos os cantos e com todos os conhecidos, a melhor profissional do sexo da cidade. Só depois de muito listar é que chegou a um pequeno elenco de três mulheres. Como não sabia qual procurar, julgou melhor ser de total franqueza com a primeira do rol, e assim sucedeu dele dizer Alô, e do outro lado a resposta feminina: Marta, especialista em sexo, como posso lhe dar prazer? Me chamo Manoel, mentiu Miguel, como todo e qualquer homem que fala pela primeira vez com uma prostituta, Olá Manoel, Sei que é pedir demais, mas será que poderia me tirar uma dúvida? Olha querido, a voz se tornara impaciente, eu cobro pra transar, pra tirar dúvida nada lucro, então não me interessa dar resposta alguma, Mas é caso de vida ou morte, bem ao menos é como se aparece pra mim, Tardas a dizer logo então, que tempo de foda não se perde ao telefone, Meu negócio não cresce mais, Está falando de pau ou de empresa? Pois de empresa não entendo, De pau, De pau entendo, Então me ajuda, Querido se o teu problema é subir você precisa ir com uma especialista, Por isso mesmo decidi perguntar para você quem devo procurar, Miguel citou então os outros dois nomes que estavam em sua seleta lista, Amor, essas que você disse são as melhores do ramo, mas só trabalham com pau pronto, para você nenhuma delas serve, Nem a ti, perguntou, Nem a mim, você precisa é de serviço brabo, por isso deve procurar Zuleida Paixão, Ela é boa mesmo?, Só não levanta defunto porque esses não podem pagar, Então é ela. Sem delongas a meretriz passou o endereço de Zuleida Paixão, a levantadora de cobras, e o homem de nome falso desligou.

Não morava na cidade a tal da última solução. Foram precisos alguns minutos em estrada de chão até chegar à uma pequena chácara, onde a placa dizia ‘Recanto da Paixão’, deveria ser lá. Miguel já esquecido de seus modos, entrou sem fazer cerimônias pela porteira aberta, quem o recebeu, porém, foi um negro enorme, que vestia apenas uma calça branca, parecia um capoeirista ou um escravo de senzala. Que queres?, Procuro Zuleida, E qual é o teu problema?, É particular, Entrou na chácara sem pedir licença, o mínimo que deve é uma resposta, Não acho que nada devo, mas já não tenho muita dignidade para defender, venho por motivos de sexo, Imaginei que fosse, por muitos interesses procuram Zuleida, mas homem só vem até aqui por razão da carne, E muitos vem, perguntou Miguel, De tempos em tempos, E ela resolve todos?, Não saberia dizer, pois não deitam à cama comigo. Dando as costas, o negro deu fim a prosa, e com um sinal da mão, pediu que Miguel o acompanhasse.

Os dois entraram em uma pequena paliçada, lá dentro estava Zuleida, uma mulher de pele escura como a noite, lábios carnudos e cabelos encaracolados até a cintura, estava de cócoras segurando uma longa folha de bananeira. Usava longos colares de infinitas pedras e um vestido amarelo terra, que deixavam pouco evidente seus quarenta e poucos anos. Com um movimento da cabeça ela fez com que o capoeirista saísse da tenda, ficando a sós com o estranho, seus olhos grandes estavam compenetrados na fumaça suave que se levantava de um apanhado de ervas que queimava numa fogueira improvisada no chão. O cheiro era forte e doce. Tem problema para levantar?, Como sabe? Já está estampado na minha face?, Homem que vem até a minha chácara só quer uma coisa, Não ei de ser diferente, Então te sentas, e apontou para uma velha cadeira de couro de cabra. Miguel estava se sentindo incomodado com a escuridão e com a fumaça que ia se tornando mais espessa, mas não convém reclamar quando se avizinha a solução. A mulher se levantou, era mais alta do que aparentava, maior do que o capoeirista, colocou a folha defumada dentro de uma cesta de vime presa ao teto e se ajoelhou na frente do flácido. Antes mesmo que pudesse protestar, Miguel teve suas calças arrancadas com violência, ruborizou ao se ver nu, mas nada disse. Com suas grandes, porém delicadas, mãos, a mulher tomou o membro morto e o olhou atentamente, de cima a baixo, por todos os lados. Ao constatar que não havia sinal algum de rasura, desceu a cabeça em sua direção. Miguel estremeceu. Primeiro Zuleida pôs seu nariz entre os baixos e grossos fios do pentelho, inspirando lentamente o aroma libidinoso. A grande boca beijou a base do pau, e a língua correu até a glande, pôs então o pau todo em sua boca e sugou suavemente. Em choque o homem sentia pouco da boca feminina, mas a mixórdia que se dava da fusão entre a fumaça inebriante, da quimérica mulata e da penumbra fantasiosa, lançavam cortinas que iam tampando qualquer percepção cética. Aos poucos não havia problema algum, não havia mole nem duro, nem triste nem feliz, nem vivo nem morto. E a mulata sugava. Não demorou para que em riste, e por escolha própria, o pênis ficasse. Duro como ferro, foi lambido pela língua vermelha da mulher, que se enrolava no corpo quente e o molhava com saliva. Gemidos partiam dos dois, mas quase inaudíveis, tamanho era o batucar de tambores e dos trompetes que vinham de lugar nenhum. Miguel quis gozar, e Zuleida pediu que gozasse em sua boca. Quanto o clímax se aproximou, a mulher apertou forte o membro e o chupou com fogo, o orgasmo se deteve por um segundo, sabendo que era o ponto máximo, mas também o fim, e Miguel não queria parar. Mas dessas coisas não nos cabe escolhas. O gozo saiu. Zuleida sentiu o tesão do homem preencher sua boca e não desperdiçou uma gota sequer, só quando o pau foi desfalecendo lentamente é que ela desprendeu-se. O batuque cessou, a fumaça foi dispersando gradualmente. Miguel parecia acordar de um transe, estava suando frio, as mãos não paravam de tremer, mas conseguiu se concentrar para colocar novamente as calças. A mulata já estava mais uma vez acocorada frente ao fogo, com a folha de bananeira em mãos.

Estou curado, perguntou o antigo flácido.

- Fred Martins

Wednesday, June 09, 2010

Bolão da Copa

Iaê Kojiros. A Copa do Mundo está chegando e ai pensei em fazer um bolão entre nós. É claro que participa quem quiser. Se dois participarem já vai ser massa. Vai funcionar da seguinte maneria:
você abre as imagens abaixo (ou entra no http://www.espn.com.br/tabelacopadomundo ), vê todos os jogos da primeira fase e coloca nos comentários todos os resultados de todas as partidas. O importante é acertar quem ganha, mas caso dê empate entre os kojiros, quem acertar mais placares ganha. Depois é só assistir e torcer. As apostas são de R$ 5,00 para a primeira fase. Quanto a oitavas, quartas, semi e final serão apostas separadas que irão acontecer caso essa primeira fase dê certo. Para validar sua participação basta comentar os resultados, sigam o meu exemplo lá.

Abraço.



Eu poderia falar alguma coisa...

...mas você que é inteligente vai entender.



Sunday, May 02, 2010


Um texto que eu achei muito interessante :]



RELACIONAMENTOS


Sempre acho que namoro, casamento, romance tem começo, meio e fim.


Como tudo na vida. Detesto quando escuto aquela conversa:

- 'Ah,terminei o namoro...' - 'Nossa,quanto tempo?' - 'Cinco
anos... Mas não deu certo... acabou'


- É? não deu...?

Claro que deu! Deu certo durante cinco anos, só que acabou.

E o bom da vida, é que você pode ter vários amores.

Não acredito em pessoas que se complementam. Acredito em pessoas que se
somam.

Às vezes você não consegue nem dar cem por cento de você para você
mesmo, como cobrar cem por cento do outro?

E não temos esta coisa completa.

Às vezes ele é fiel, mas não é bom de cama.

Às vezes ele é carinhoso, mas não é fiel.

Às vezes ele é atencioso, mas não é trabalhador.

Às vezes ela é malhada, mas não é sensível.

Tudo nós não temos.

Perceba qual o aspecto que é mais importante e invista nele.

Pele é um bicho traiçoeiro.

Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais
básico que é uma delícia.

E as vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona...

Acho que o beijo é importante... e se o beijo bate... se joga... senão
bate... mais um Martini, por favor... e vá dar uma volta.

Se ele ou ela não te quer mais, não force a barra.

O outro tem o direito de não te querer.

Não lute, não ligue, não dê pití.

Se a pessoa tá com dúvida, problema dela, cabe a você esperar ou não.

Existe gente que precisa da ausência para querer a presença.

O ser humano não é absoluto. Ele titubeia, tem dúvidas e medos mas se
a pessoa REALMENTE gostar, ela volta.

Nada de drama.

Que graça tem alguém do seu lado sob chantagem, gravidez, dinheiro,
recessão de família?

O legal é alguém que está com você por você.

E vice versa.

Não fique com alguém por dó também.

Ou por medo da solidão.

Nascemos sós. Morremos sós. Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado.

E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar,
seu pensamento.

Tem gente que pula de um romance para o outro.

Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia?

Gostar dói.

Você muitas vezes vai ter raiva, ciúmes, ódio, frustração.

Faz parte. Você namora um outro ser, um outro mundo e um outro universo.

E nem sempre as coisas saem como você quer...

A pior coisa é gente que tem medo de se envolver.

Se alguém vier com este papo, corra, afinal, você não é terapeuta.

Se não quer se envolver, namore uma planta. É mais previsível.

Na vida e no amor, não temos garantias.

E nem todo sexo bom é para namorar.

Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar.

Nem todo beijo é para romancear.

Nem todo sexo bom é para descartar. Ou se apaixonar. Ou se culpar.

Enfim... quem disse que ser adulto é fácil?

ARNALDO JABOR

Tuesday, April 20, 2010

A Existência Primária

Conto que fiz para dar de presente para a Dominich, levei uma manhã para escrevê-lo e meia tarde para revisá-lo. Espero que gostem.




A Existência Primária

I

Em algum lugar onde o tempo não existe e o espaço é superestimado, uma energia pairava onipresente, apenas feita de cores que variavam entre o branco, o pérola e dourado, parecia se reconstruir dentro si mesma. Fechos de luz eram emitidos de seu centro, enquanto sua forma mudava com violência e velocidade. Aquela energia não era algo que um humano pudesse conceber, pois não pertencia a gama de coisas que ele um dia pudera observar. Provavelmente, se um homo sapiens, por uma ruptura da realidade, pudesse entrar naquele plano, sequer conseguiria ver ou sentir qualquer coisa além de uma perturbadora voz gritando em sua cabeça. Isso pq os olhos e ouvidos humanos seriam incapazes de traduzir o sistema infinito formado por moléculas de existência e células de energia multinuclear. A energia pérola permaneceu ali pelo que pareceu tempo algum, ou bilhões de voltas ao redor do sol para um pequeno e esquecido planeta azul, fazendo tudo e nada, pois o significado era elevado à níveis de consciências binárias sem precedentes.

Vindo de algum outro plano, por meio de uma abertura invisível, uma placa negra adentrou o recinto da energia pérola. A placa era perfeita, e seu negrume era tão intenso que parecia sugar tudo ao seu redor. Como uma vibração negativa, que soava como milhões de explosões de um plano subsequencial, o monólito fazia os fios que sustentavam aquela dimensão se partirem lentamente. A energia pérola, sentindo a presença implacável do visitante, parou subitamente de se transformar, seus micro corpos foram se condensando e suas luzes ficaram ainda mais vivas. Os dois, placa e energia, foram se aproximando, vibravam assustadoramente, acelerando seu poder e desacelerando o pensar. Quando se tocaram, diversas outras conexões e espaços paralelos se dissolveram, os fios que os rodeavam ruíram e o cosmo sentiu que revirava sobre seu próprio umbigo celeste. O contato queimou a teia existencial que os rodeava, pouco a pouco, o que havia ao redor foi virando nada, sem cor, sem som, sem preto, sem branco. O buraco de não-vida foi crescendo e tomando as outras dimensões com velocidade, até que 270 trilhões de pensamentos simultâneos entre a placa e a energia decidiram subjugar a autoridade de suas representações físico-quântico-hexadimensionais. Como um piscar, ou como 600 milhões de voltas de uma galáxia sobre a outra, a placa e a energia deixaram de existir naquele plano e tudo parou de se mover.

II

Em um ponto bipolar, dentro da superfície dos mundos, chamado pelas suas micro espécies de planeta Terra, uma pequena cabana no alto de um extenso penhasco, rodeado de videiras e acácias, pareceu emergir tremulante do ar vazio. Era um simples casebre de madeira escura, montado sobre uma estrutura de paus paralelos e cercado por uma gramínea de verde oliva. O sol poente lançava raios de luz avermelhados sobre o penhasco, deixando-o com um ar melancólico de pintura expressionista. Dentro da choupana dois homens se encontravam depois de muito tempo, um deles, um senhor de cavanhaque grisalho, terno e sapatos brancos e um chapéu Panamá, começou o diálogo:

- Esse lugar parece o mesmo. Tão entediante. – ele olhava pela janela rumo ao horizonte limitado.

- Ele mudou, como tudo tem mudado. – disse o outro homem, um jovem, de belo rosto quadrangular e cabelos negros penteados para trás. Vestia um terno azul marinho sem botões, com blusa interna e sapatos pretos. – Só quem não mudou fomos nós.

A sala onde estavam não tinha decoração, suas paredes era de madeira bruta envernizada. No centro da sala duas cadeiras, uma de frente da outra – separadas por uma pequena mesa - dividiam a atenção de um tapete circular de crochê. Uma lareira apagada dava alguma forma ao lugar, assim como um velho armário de portas talhadas.

- É claro que nós mudamos, não se deixe enganar pelas nossas aparências mais superficiais.

- Você, aos meus olhos, parece o mesmo do começo de tudo.

- Não, devo lhe corrigir mais uma vez, eu mudei muito desde então. Mal reconheço meus atos passados. – o velho tomou uma rústica cadeira acolchoada no centro do salão e acendeu um grande cachimbo de ervas que ele mesmo criou – Você se importaria de acender a fogueira? Esse corpo sente frio.

- Claro que não me importo. – o jovem então jogou alguns pedaços de lenha, molhou-os com querosene e lançou um fósforo em chamas sobre eles. O fogo crepitou para fora da lareira, trazendo um brando calor e uma tênue luz amarelada. – Eu me recordo que na última vez que nos vimos você prometeu nunca mais voltar aqui, pensei que seria mais difícil convencê-lo.

- Se fosse por mim jamais pisaria com esses pés sobre o plano dos mundos. Mas você me procurou, me tirou de meu sono, aqui agora estou, frente ao meu maior opositor. Mas não tenho pressa, por favor, - e acenou para uma das cadeiras da sala com um largo sorriso no rosto – sente-se comigo. Desfrutemos esse momento.

- Engraçado ouvir você falar em ‘maior opositor’, pois até onde sei, somos os únicos que transitam entre todos os planos, por isso, serei sempre o ‘único’ e nunca o ‘maior’. – o jovem, já sentado, levou a mão à testa, estava fraco e cansado.

- Queria apenas enfatizar nossa posição contrária, como os dois lados da sala, você de um e eu de outro.

- Veja. – o jovem tirou então um charuto do bolso interno do paletó – Não somos tão diferentes assim, fumantes.

Os dois gargalharam.

- Mesmo eu não tendo criado você, sempre o vi como um pupilo, que anseia ser como o tutor.

- Como bem disse não fui criado por você, nem nunca ao menos lhe tomei como mestre. Ao meu ver, ser como você, sem a preocupação de encontrar um adjetivo melhor, seria degradante. Não que eu não tenha nada a aprender com você, mas me perguntou se tudo que é ensinado é tão válido assim.

- Você me ofende gratuitamente, mas não se preocupe, eu não me importo. Certamente não teria tempo para ensiná-lo, haja visto também que, fora desses corpos, jamais pensaríamos em coisas tão mundanas como ‘aprender’ ou ‘ensinar’.

- Fico feliz com sua tolerância, foi sempre do seu feitio se considerar superior demais para ser criticado. Mas concordo com você, fora destes corpos somos muito diferentes e indiferentes também. Mas me diga, o que você vê quando olha por essa janela?

- Um planeta qualquer do plano dos mundos.

- Mas essa foi sua primeira criação, esse foi marco zero do início de nossas existências.

- Talvez da sua, caro amigo. Eu sempre existi.

- Nós éramos formas e não existências. Apenas partículas de energia pairando sobre um manto escuro. Antes da grande explosão sequer havia outros planos. – o charuto já estava quase no fim, quando o jovem foi até um velho armário e dele tirou uma garrafa de whisky de mais de 100 anos e serviu em dois copos sem gelo.

- Eu sei que não havia outros planos, fui eu quem os criou.

- Nem todos, velho camarada. A divisão física entre as dimensões primárias não foi obra sua, foi criada junto conosco. – o jovem sabia que incomodava o velho com suas afirmações, e era esse o objetivo. – Tudo que fazemos é abrir portas entre os cômodos, nunca para fora da casa.

- Estou trabalhando nisso. Não acredito que a parede se sustentará por muito tempo.

- Você jamais romperá a parede. – uma dor aguda atacou a cabeça do jovem, que se esforçou para não demonstrar incomodo algum.

- Você é tão limitado jovem. Como pode não ver a infinidade de meu poder. Hoje sou capaz de recriar a criação. Refazer explosões iguais aquela que nos organizou. – o velho tomou o antigo destilado e sentiu o gosto doce percorrer sua boca e trazer boas sensações mundanas.

- Mas isso, talvez, até eu possa fazer. O que não significa nada. De que adianta recriar a criação se ela não tem valor algum?

- Lá vem você mais uma vez com essa conversa. Pare de filosofar sobre questões tão pequenas. Você não é físico, você não é sólido, nós não somos esses corpos em que estamos e essa conversa, nesse nível tão ralo, só está acontecendo pois, quando nesses casulos, nos impedimos de ser o que somos verdadeiramente. Eu sou a energia pérola, e você é a placa negra. – o velho estava perceptivelmente irritado.

- Pq você insiste em não ver que nós, há muito tempo, deixamos de ser qualquer coisa? Cada vez mais estamos distantes de qualquer propósito, vagando aleatoriamente, criando dimensões e reconstruindo partículas. – outro charuto foi aceso e levado imediatamente à boca seca.

- Propósito? Propósito? Nós não precisamos de propósito. Onde você esqueceu o que é? Nós não precisamos nos preocupar em existir. Nós somos o que sustenta o Tudo. Nós somos o extenso manto.

- O Tudo não precisa mais de nós, você bem sabe disso.

- E aonde você quer chegar? – o velho enchia novamente o seu copo com whisky.

- Que nós não somos mais precisos.

- Nós nunca fomos. Você não percebe que você está tentando aplicar lógica ao que precede o verbo. É impossível no julgar, classificar ou mesmo mensurar nossa necessidade. Nós nunca servimos a um propósito, nós somos o propósito. Nós criamos o tempo e o espaço.

- Você se tornou tão prepotente.

- Você se tornou tão humano. Quanto tempo tem passado nesse planeta, é por isso que nunca mais havia sentido você nos planos mais longínquos. Você não entende que nada disso aqui é real? Isso é apenas uma célula que eu criei para experimentar meu poder. Essa é a mais primaria e vazia das cores.

- Não, velho, você que nunca conseguiu perceber que essa é a única existência que verdadeiramente vale a pena viver. Nós somos vazios perto do que há além dessa janela.

- Eu sou feito de trilhões de mundos como esse. Eles fazem parte de minha estrutura, como você poderia dizer que algo tão simplório é a essência primordial? Você está louco. Eu sou a complexidade, a junção e fim.

-Não, você está enganado, nós somos o começo.

- Você me cansa. – o velho deixou seu cachimbo apagado sobre a mesa e caminhou até lareira, colocando a palma das mãos próximas ao fogo.

- No dia que houve a grande explosão, foram criadas duas existências, a placa negra e a energia pérola. Em nosso princípio, quando éramos impulsionados por células ainda incandescentes fomos capazes de criar a melhor das formas de vida. Não estou dizendo que eles são perfeitos, mas não há nada tão intrigante como eles.

- Eles são vis, jovem. São estúpidos. Veja os mitos que eles criaram sobre nós. Eu sou Deus, Alá, Ganesha, e você é o Mal, Satã, a Gêmula da Maldição, entre tantas outras baboseiras infindáveis. Pq você quer conviver com seres tão pequenos?

- Pq nós ficamos grande demais, velho. E não se importe com os mitos deles, ao menos você é venerado, tão conveniente pra você...

- Como você pode imaginar uma coexistência com eles? Perto de nós eles são poeira cósmica.

- Talvez devêssemos voltar a ser poeira, então.

- É uma escolha que você, definitivamente, pode fazer. Assistirei feliz a placa negra se partir em milhares de cosmos e perder sua pentaconsciência. – o velho tomou novamente o seu lugar na cadeira, ainda com um semblante estupefato.

- Eu não vou virar cosmo, nem me misturar aos fios das dimensões. Eu vou virar humano.

O velho deixou cair seu copo de whisky no chão, que partiu-se em milhares de cacos. As coisas mundanas eram tão frágeis. Seu rosto era a expressão da surpresa, talvez fosse a primeira vez que sentia aquela emoção humana, era tão curioso estar naquele corpo, ao mesmo tempo tão humilhante.

- O que você disse? Você vai virar humano? Você não pode fazer isso. Cogitar isso é humano demais, até mesmo para os nossos atuais corpos, volte já para sua forma elevada e esqueça os seus ridículos pensamentos.

- Eu estou decidido velho. Isso vai realmente acontecer

- Você é minha dualidade, meu oposto. Você não pode fazer isso.

- Eu sei disso, você sentirá minha falta. Eu vou retroceder a esse corpo que você está vendo para sempre. Foi uma escolha que demoro muitos trilhões de anos para ser feita. Muitas vezes estive tão entretido criando ondas magnéticas e seres de pensamento fluido violeta que esqueci que o meu lugar era aqui, justamente na sua primeira criação.

- Você não entende. Você é parte intrínseca de mim, você não pode simplesmente se tornar humano, provavelmente sua ausência quebraria a cordas mais antigas e a Terra deixaria de existir. Você está fadado a ser o que é, para sempre.

- Não se eu trouxer você junto comigo.

Uma longa e alta gargalhada soou no aposento – Eu jamais abandonarei minha autoridade para me tornar um humano, eu sinto muito jovem, mas eu não compartilho de seus anseios.

- Eu sabia que essa seria sua resposta. Foi por isso que me ausentei por milhões de anos. Estive procurando uma forma de convencê-lo a se tornar humano.

- Não há argumento que faça isso garoto, começo a achar que você é mais tolo do que pensava ser.

- De fato, não encontrei nenhum argumento, nem mesmo um que pudesse ser usado quando estivesse fragilizado em um corpo humano. Por isso comecei a procurar uma forma de transformá-lo a força.

- Isso seria impossível, você não é cria minha, mas é subjugado ao meu poder. Nunca conseguiu me forçar a lhe amar, quanto mais a me tornar humano.

- Isso não é uma inteira verdade. Eu achei uma brecha, caro velho. Eu vou forçá-lo.

- Me diga como. – os olhos do velho fitavam o jovem com severidade.

- Bem, foi um longo processo. Precisaria de mais de 30 anos humanos para lhe explicar todos os passos que culminaram no dia de hoje. Mas vou lhe explicar de uma forma bastante simplória, e por isso, peço desculpas. Primeiro quero que olhe para a palma de sua mão esquerda. – o velho olhou e percebeu que no centro dela havia o desenho de uma cruz, seu corpo estremeceu – Isso que você vê é uma marca que me custou anos luz, ela é o selo que impede você de simplesmente me abandonar aqui até que eu termine essa conversa.

- Interessante, ao menos lhe ouvirei.

- Você não percebeu, mas durante anos eu envenenei os fios dimensionais que o cercavam e eles enfraqueceram sua energia essencial. Você não percebeu, pois estava ocupado demais destruindo a parede do vácuo. Com sua energia estremecida eu pude inserir diversas células minhas em sua composição, por meio dos mundos que você ingeria e destruía. Você se misturou a mim e eu me misturei a você. Então faltava apenas um último ato, subjugar sua autoridade mor, por isso sem que você notasse, criei 3 mil e 900 dimensões feitas de minha matéria fundamental. Esperei por milênios para que você finalmente entrasse em uma delas, e isso aconteceu, tempos atrás, foi lá que nos encontramos pela última vez. Eu já estava completamente fraco e se você não tivesse aceitado descer ao plano dos mundos comigo, provavelmente eu ali deixaria de existir. O contato entre nossas massas ativou minhas células em você, você se tornou um igual. Agora, estamos nós dois aqui como irmãos. Não estou abaixo de você, não hoje.

- Vejo que você se esforçou muito para me trazer aqui. – a voz do velho era fria, mas mantinha-se calma – Mas você não pode me dominar sendo igual a mim, é um preceito básico, além disso, você está fraco, mesmo sendo agora um irmão, eu posso facilmente matá-lo.

- É ai que entra o whisky que você tomou...

Antes mesmo de terminar a frase, o velho percebeu tudo o que tinha sido feito, e enfiou o dedo na garganta, vomitando no chão de madeira. Estava completamente abalado e sua face era de profundo medo.

- Não adianta mais. – continuou o jovem – O veneno já se espalhou pelo seu corpo, você vai morrer em alguns minutos, como um humano.

- Como você ousa? Quão louco é você, idiota. – os sentimentos humanos incontroláveis tomaram o velho, que mal conseguia formular pensamentos coerentes, já sentia as pernas tremerem e uma forte dor no estômago. Você envenenou o CRIADOR, você é mesmo a BESTA que esse povo fétido lhe nomeou.

- Calma velho. – o jovem estava em pé do lado da lareira, segurava o copo intacto de whisky e com a outra mão o charuto já no fim. – Pense apenas em saborear a experiência, será sua primeira morte.

- Como fui tolo.

- Na verdade os méritos são todos meus, você faz tão parte de mim que minha vontade de que você bebesse o veneno foi maior do que a sua capacidade de desconfiar.

- Eu tenho nojo de saber que você está em mim...

- Minhas células são as mais fracas, devem estar morrendo primeiro do que as suas, em poucos segundos, você voltará a ser apenas você. Morrerá sozinho.

- Você vai destruir tudo que existe. – o velho babava e sua voz saia com dificuldade – Todos os planos deixarão de existir, e tudo que você fez terá sido em vão. Ainda há tempo, tire o selo de mim, me deixe sair desse casulo.

- Não, isso não acontecerá. Além do mais eu tomei as devidas providências. Os planos não se destruíram, pelo contrário, com nossa ausência eles poderem se fortalecer e se estruturar de forma devida. Você não consegue ver, pois você se expandiu demais, mas nós éramos o câncer de todos os planos. Nós estávamos destruindo a parede, mais cedo ou mais tarde você ia acabar se tornando algo tão grandioso que nem sequer saberia quem era.

- EU NÃO QUERO SER HUMANO.

- Velho, você já é.

Não demorou mais do que 20 minutos para que o corpo sem vida do velho se estatelasse no chão. Os olhos revirados e a expressão de intensa dor. O jovem foi novamente até o armário, e dessa vez trouxe uma adaga, dois cravos comestíveis e um pequeno cubo – do tamanho de um dado – de cor âmbar. Com a adaga cortou o pulso esquerdo mais fundo do que planejara, sentindo uma terrível dor, mas segurou o urro que pediu pra sair pela sua garganta. Enquanto o sangue fugia de suas veias, engoliu um dos cravos e o outro pôs na mão do velho. Pousou o cubo negro no centro da sala e foi para o lado de fora do casebre, sentou-se em um sofá na varanda, virado para o por do sol. Ficou alguns segundos fitando as nuvens grandiosas que recebiam as cores avermelhadas e pareciam queimar internamente. No solo só se via verde para todos os lados e um rio estreito cortando as planícies. Parecia algo irônico, ele agora emocionado ao ver o que ajudara a construir, o marco zero seria agora seu lar, até o fim de uma vida mortal.

Assim que o sol sumiu na linha acidentada do horizonte, o jovem fechou os olhos e não mais os abriu. Apenas horas depois, renasceria, e ao lado de seu melhor amigo - seu irmão, seu oposto, sua autoridade, seu deus – caminhariam entre as altas árvores, como falhos e vis humanos de uma existência primária, da qual jamais se arrependeriam de viver.


- Fred Martins

Para Dominich Pereira Cardone, com carinho e amor.