"Jogaram minha cabra do 6º andar!"

Olá, meu nome é Mustafar, meu pai me deu esse nome quando tinha 10 anos, isso mesmo, meu nome era Ajim, mas ele viu um seriado na TV Al Jazeera e decidiu mudar meu nome. De acordo com ele, Mustafar era um sírio especialista em bombas que comandava um batalhão de mulheres espiãs, e essa é a história do meu nome. Mas eu não ligo, com meu irmão, foi pior. O nome dele é Arbac Koзoчka, e é o pior nome que alguem pode ter, pelo menos para um muçulmano como nós, meu pai o batizou como Assan, mas quando meu irmão ficou doente só ficou curado após uma curandeira preparar um chá de saco de cabra, como se não fosse pouco, meu pai mudou seu nome para Arbac, que é cabra ao contrário, e adicionou Koзoчka, que é uma palavra russa que significa 'cabra'. Meu irmão odeia meu pai, mas eu acho que é exagero.

Ta que meu pai sempre fez algumas coisas que nós achamos galashan, ou seja, meio estúpidas, mas todos os pais erram não é? Uma história que vem a cabeça agora aconteceu faz uns dois anos, eu tinha 15 anos e Arbac tinha 13. Meu pai havia feito uma coisa muito errada, muito mesmo. Ele bateu na cabra do aljar, o lider espiritual de nossa vila, foi condenado a 70 chibatadas, mas após presentear nosso aljar com 3 vasos de mirra do monte Lanlana, el conseguiu apenas que seu filho mais velho levasse 100 chibatadas e o mais novo tivesse o pênis cortado. Meu irmão ficou puto, mas eu nem tanto, as chibatadas até curaram uma dor na coluna que eu tinha.

Me pai é apenas humano, e sente medo como qualquer um, foi por isso que quando os soldados americanos entraram em nossa casa ele apontou para eu e pro meu irmão e gritou "bum! bum!". Nós apanhamos feito uma lagartixa de duas cabeças nesse dia, meu irmão teve uma das mão decepadas e eu tive o cabelo raspado e a cara pixada com spray de tinta preta. Mas foi de doer o coração quando nosso pai nos encontrou no leito do rio jandir, chorou por meio minuto, foi de partir o coração. Até pagou um suco de terra para eu e para meu irmão.

Nossos pais nos amam, e amam acima de tudo, fariam de tudo para nos manter longe do perigo. E é por isso que eu e meu irmão estamos agora nesse avião. Depois dos vários ataques americanos a nossa vila meu pai nos mandou para os Estados Unidos, ele disse que no covil dos lobos estaremos salvos, como a história de Ala no moinho do ventos. Ficaremos cerca de 2 meses por lá, meu pai disse até que estudaremos na faculdade de "ravardy", foi o que ele disse. Tamanho era seu amor que com medo do frio que poderiamos pegar por aqui nos deu jaquetas grossas, cheia do que ele mesmo chamou de "bananas de calor", disse que ia nos esquentar bem muito. Arbac ficou um tanto desconfiado, disse que não fazia sentido nos mandar para um lugar onde ninguem nos conhesse, mas ficou mais tranquilo quando viu que alguns amigos do papai nos acompanhariam. Meu pai pediu o dinheiro que iamos levar, para evitar que gastassemos comendo doce. Pegou até um cordão de prata de Arbac, disse que era para se lembrar dele nos momentos de saudade. A viajem foi tranquila, viajamos acima das rodas, meu pai disse que era pq os assentos estavam lotados e ele tinha pressa em nos manter seguros. Chegaremos daqui a uma hora, mas os colegas de papai já disseram que não é para saírmos do avião pois haveria uma supresa, mas papai com seu jeito entusiático já tinha nos avisado, disse que conheceríamos a "disnilend", esse era o dia mais feliz de minha vida, e com certeza o de Arbac, isso pq nosso pai nos ama demais.

Mustafar Cassin, dia 11 de setembro de 2001.

Uma singela homenagem bem humorada (e bem darkness) a Alexandre Nardoni e Ana Jatobá, os pais que todo mundo sempre quis ter.