Monday, April 14, 2008

O Moreira

O Moreira

Moreira já não era homem novo, nem sequer se sentia como tal, muito pelo contrário, se sentia velho, combalido pelo tempo e amaldiçoado pelos deuses, os quais ele nunca acreditara. Estava de saco cheio de tudo em sua vida, do fato de não ter sido nem rico, nem pobre, virara um cidadão pacato de classe média; de não ter sido nem jogador de futebol, nem pedreiro, era um abatido contador que trabalhava para os outros; e sequer conseguiu ser branco ou negro, era um mulato, daqueles que as pessoas chamam de 'moreninho' ou 'branco asfaltado'.
- Que porra é essa? - falou baixinho Moreira, no escritorio, enquanto passava os dedos suavemente pelo longo bigode negro. Pensava em tudo que conseguira na vida, e logo terminara de pensar, "muito pouco, muito pouco".
O velho e abatido homem de 40 anos então se levantou e se dirigiu para o banheiro, iria espulsar o resto do almoço o que o daria um gás extra para terminar a papelada estacionada em sua mesa. Andou poucos metros quando foi parado por seu colega de trabalho o Alberclei, que disse:
- Ei Moreira, bora jogar uma partida de baralho depois do trabalho? - o hálito do homem entrou nas narinas de Moreira como uma lança a penetrar o corpo de um gladiador, destruindo toda forma de vida encontrada nos poros de seu canal respiratorio. Moreira levou imediatamente as mãos ao nariz a procura de socorro daquele odor acre de decomposição em estado de decomposição, mas antes que suas mão completassem a trjetória Albeclei segurou seus braços, era magro, mas forte como um pedreiro.
- O que esta acontecendo Moreira? Que cara é essa?
Moreira sabia que Alberclei sabia. Se ele levasse as mãos ao nariz seria uma afronta ao bucalmente mal cheiro inveterado Alberclei, mas senão levasse poderia ter uma morte por inalação excesíva de gazes poluente. Escolheu a primeira, abaixou lentamente os braços, vendo Alberclei franzir os lábios, ostentando vitória no embate.
- O que me diz da partida de baralho!
- Vou deixar para outro dia! - responde em tons de cinza e marron.
- Outra hora não! Vamos lá, que minha Zuleida vai fazer aquele macarrão que tu gosta!
- Eu não gosto! - Moreira sentiu uma gota de suor descer pela sua testa, viu Alberclei franzir a sua e apertar com força o furador de papel em sua mão. Prontamente corrigiu o eqquívoco - Eu não gosto, eu adoro!
A mentira saiu de sua boca suavemente, como um tijolo sairia de uma bunda, mas Alberclei não notou.
- Então qual o problema?
- Estou ocupado...Vou assitir o último capítulo da novela...!
- A novela das sete ta acabando? - Perguntou Alberclei deixando o furado de papel na mesa e pegando uma caneta, sem tampa, sem tampa. Moreira viu isso e pensou rápido como um hipopótamo em uma resposta bem elaborada e disse:
- Pois é né!
Albercli virou-se rápido e gritou para uma senhora gorda do outro lado da grande sala. Quando viu isso Moreira tentou partir, mas sentiu as mãos de Alberclei o segurando.
- Dona Judite, a novela das sete ta acabando?
De lá veio a voz de uma mulher gorda e sedentária que gosta de gatos.
- Não a da Globo, talvez a da Record, mas essas eu não assisto!
Alberclei se virou, seus olhos secos e chupados encarando Moreira de forma doentia.
- Ora, não to entendendo!
- É que eu gravei o fim da novela passada e vou assistir hoje.
- Qual novela?
- Err...Suave Veneno! - Moreira sentia como se essas podessem ser suas últimas palavras.
Alberclei deixou os ombros cairem sobre seu corpo e assoviou lentamente.
- OK então. Tanto faz! - então o magro homem de cara desforme aproximou seus lábios do ouvido de Moreira e sussurrou - VOCÊ SEMPRE FOI UM BOSTA ASSISTIDOR DE NOVELA! SUA PUTA!
Moreira ficou apenas calado, sentindo a caneta na mão do hoemem dançar pela sua barriga.
- Me desculpe!
- SUAVE VENENO? VOCÊ É UMA GAROTINHA!
Moreira então se virou devagar, se afastou lentamente sentindo os olhos de Alberclei em sua nuca e seu sorriso débil pairando em sua face. Entrou no banheiro e desandou a chorar. Chorou tanto que sentiu seu sangue começar a sair de seus olhos, pegou uma de suas seringas no bolso do paletó marron e injetou em sua veia, se era endorfina ou cocaina, ninguem nunca iria saber. Travou os dentes e se deixou adormecer enquanto pensava em se matar naquele mesmo dia. O rosto molhado de lágrimas olhava para a luz amarela, onde um mosquito voava sem parar. Depois de 10 minutos se levantou. Olhou-se no espelho e voltou ao salão.
Sentou-se em sua mesa e começou a procurar algum botão escrito 'LIGAR', mas antes disso sentiu um tapa forte nas costas, a mão larga de Alberclei, que falou baixo, para apenas ele ouvir:
- Moreira vai assistir o que hoje? Novela? - Alberclei ia rir, mas quando começava a gargalhar viu que na mão de Moreira não havia um corretivo, mas sim um tirador de grampo. Procurou a caneta rapidamente em seu bolso, mas era tarde demais.
Moreira levantou-se de sua cadeira giratoria de xofre, jogando Albeclei para trás que bateu de costa em uma mesa e caiu de joelhos na frente de Moreira.
- Só diga a minha mulher que...- começou a dizer Alberclei, mas Moreira cravou o tirrador de grampo em sua cabeça. O sangue espichou em sua roupa e ele urrou de pavor e alegria. Viu que Dona Judite já alcansava a porta, correndo desesperada, pegou um grampeador e atirou acertando sua nuca e a jogando desmaiada no chão. O último homem da sala era o motoboy, que vendo a pericia do assassino apenas orou enquanto tinha os olhos perfurados por marca-textos.
Moreira, caminhou até Dona Judite e a fez engolir o conteúdo de 9 potes de corretivo líquido.
Depois desceu as escadas do edifício, jogou fora seu paletó e abriu o primeiro botão de sua blusa, a dobrou ate o cotovelo e jogou os cabelos para trás. Entrou no primeiro bar que viu e lá tomou três cervejas sem respirar. Se aproximou de uma mulher feia, mas que tinha uma bela bunda e falou:
- Meu nome é Moreira Suave, ou Moreira Veneno! Que seja, que se foda! Quer foder comigo?
Moreira fodeu com aquela mulher por mais 8 anos. Antes de ser preso no Panamá. Até lá já havia matado mais 30 pessoas, incluindo sete policiais e duas amantes. Morreu aos 78 anos e suas últimas palavras foram para um Porto Riquenho que o degolava:
- Morro agora seu puto, mas morro pobre, pedreiro e negro, Alberclei! Alberclei eu NÃO tenho mal hálito!
E morreu suave. Com um arame farpado no meio da garganta.

4 comments:

Anonymous said...

muito bom!!!!!!!!!!!
sempre falamos no moreira sem saber qual o seu real sentido, e sem saber a força de seu nome!!!
nunca imaginei que ele fosse tão veneno e suave ao mesmo tempo....
eh muita intensidade num menino só...
esse é o menino moreira!

Anonymous said...

ó moreira! como és suave veneno! jamais pronunciarei seu nome em vão!
uehuiaos :) essa história da bem menino moreira! a história do pequeno moreira me intrigou bastante.. flw moreno suado!
uieohias :D

André Rezek said...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk..
muiiiito bommm xDDD
doce veneno suave moreira xD

Felipe Vencato said...

doentio (:
asuashuashuasuh
ele não deveria ser um menino ?